Perfil Marcelo Amorim por Espaço Humus
Marcelo Amorim fala com espanto da perda de preciosidade que as fotografias sofrem ao longo dos anos; se uma vez são apreciadas e tem um lugar especial, quase como um altar, ao longo dos anos são papeis que juntam pó e vão para o lixo. Ou para o sebo. E é no reino de traças e páginas que o artista plástico encontra o material para o seu trabalho.
O processo de fotografar acabou por ser abandonado. Marcelo interessou-se pelo trabalho arqueológico de colecionar imagens, apropriar-se delas, fazer com que elas virem outras. Começou com a lua de mel dos pais no Rio de Janeiro. Tripé-Tempo é mesmo tripé de um tempo recortado, com barrigas expostas e um Sol que podia ser amarelo, mas é azul. E aí começa então a sua reinterpretação de fotos.
Ele desloca quadros de paredes, para lá e para cá. É importante para o artista remover os tijolos do muro que separa a fotografia e da pintura, muro que também diz que enquanto a pintura é invenção da cabeça, a fotografia é verdade. Ela é tão mentira quanto qualquer representação imagética, que congela o visual e esquece o que não pode ser visto. É tudo mentira e tudo verdade. Andamos com fantasmas.
Mas andamos também com Marcelo, pelo seu ateliê, entre ferraduras e espelhos. Um cachorro late e se enrola nas pernas. E conhecemos a fundo do trabalho de um homem pescador de imagens e transformador de história. Todas as festas de crianças têm bolo e vela, e nem todo o manual para o amor ensina a amar a de verdade. Marcelo segue assim, falando e brincando com o tempo.
Entrevista: Ana Luiza Gomes
Video: Amália Coccia