O ponto de partida deste projeto é o longa-metragem “Os sonhadores” de Bernardo Bertolucci, realizado em 2003 e ambientado na Paris de 1968. A obra é repleta de referências, especialmente do cinema de vanguarda francês, clássicos de Hollywood e aos anos de formação do próprio autor.

A partir da ação de assistir ao filme “Os sonhadores”repetidas vezes, Marcelo Amorim faz anotações, comentários e decupagens, buscando identificar no próprio
filme referencias de outros. É por meio desta pesquisa minuciosa que o artista reconhece símbolos que os leva a outros filmes, sejam estes através dos próprios trechos de filmes enxertados na montagem, como pela trilha sonora, ou na escolha das locações e até mesmo nos objetos de cena selecionados pela direção de arte.

Estas são algumas das inferências identificadas por Amorim em “Os sonhadores”. Desta forma, a decupagem do filme acaba funcionando como uma dissecção
realizada com o intuito de melhor conhecer a anatomia de uma obra para assim inferir sobre seu funcionamento, suas origens e as obras que marcaram seu autor.
Contudo, a investigação dificilmente resultará no mapeamento total das referências, porém, mesmo sendo “incompleta” ela apresenta um leque abrangente de
possibilidades.

Criando uma espécie de “ponte” para cada filme referenciado, Amorim se apropria dos trechos de filmes identificados por ele e os manipula tal como acredita ser mais interessante para que esta ponte se construa. Produzindo assim, uma mostra de videos bibliográficos ao “Os Sonhadores” de Bertolucci, contudo uma mostra de filmes manipuladas por um novo diretor; Amorim.

Porém o projeto não resulta apenas na exibição dos videos, ele se estende a uma publicação (apresentando um resumo gráfico de registros que documentam o processo do artista) e a exibição do filme “Os sonhadores” em sessões especiais.

Conforme a metáfora de criar “pontes”, os videos a serem apresentados não seguem um percurso em certo, pois assim como os videos, os expositores comportam-se como dispositivos com múltiplas combinações de percursos, que não obedece a um início ou fim, apenas fluem a partir das conexões entre as estações.

“Os Sonhadores” de Marcelo Amorim não segue uma narração, pois parte de várias pontes que saem de um mesmo caminho (do filme de Bertolucci) mas que levam a
lugares inimagináveis. Assim, os videos de Amorim pode tanto guiar o espectador para o sapateado frenético de Fred Áster, como ao julgamento silencioso de Antoine em “Os Incompreendidos”. Paula Borghi